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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

História dos Chiquitanos

O povo Chiquitano resulta de um conjunto de povos - Samucos, Paikoneka, Saraveka, Otuke, Kuruminaka, Kuravé, Koraveka, Tapiis, Korokaneka, Manacica e Paunaka, entre outros - que foi aldeado na Bolívia, em missões jesuítas nos séculos XVII e XVIII. Vários foram os aldeamentos que compuseram as Missões de Chiquitano: de San Xavier, de San Rafael, de San Joseé, de Miguel, de San Inácio de Zamucos, de Santa Ana, de Santo Coración de Jesús e de Santiago de Chiquitos, de San Juán Bautista e Concepción de Chiquitos (Créqui-Monfort e Paul Rivet, 1913; Meireles, 1989).

No Brasil, parte da área onde vivem os Chiquitano foi inicialmente posse da Coroa Espanhola. Conseqüentemente, esse povo muitas vezes era, e ainda é, considerado boliviano (ou castelhano). Durante muito tempo, a região foi motivo de conflitos de fronteira e a documentação existente no arquivo público de Mato Grosso é farta em notícias sobre os freqüentes deslocamentos desse povo e a pobreza de sua condição. Por exemplo, há o registro de um grupo de cerca de 200 famílias Chiquitano da Bolívia que migrou para a região de Vila Bela, no estado matogrossense, para refugiar-se da guerra do Chaco, entre a Bolívia e o Paraguai, na segunda década do século XX.

Os Chiquitano já viviam na região de Cáceres, quando Vila Maria do Paraguai foi fundada, no século XVIII. Essa vila abrigava um forte militar que servia de anteparo aos ataques dos espanhóis. Luiz de Albuquerque, na ata de sua fundação, refere-se a "cerca de sessenta índios castelhanos de ambos os sexos que havera três meses desertaram da missão de São João de Chiquitos" (NDHIR, microficha 273 - AHU).

Os Chiquitano eram muito procurados por fazendeiros brasileiros, uma vez que, em virtude da experiência que tiveram nas missões jesuíticas, eram considerados excelentes trabalhadores e vaqueiros. O fazendeiro Marcelino Prado, por exemplo, empregava muitos Chiquitano. Ele tinha uma chalana que transportava seus produtos do Rio Paraguai até Corumbá e foi nomeado Capitão dos Índios pelo governo Marcumtinho (sic), que lhe concedeu quatro sesmarias "da matta rica e de borracha" (Badarioti, 1898:60). No relato do cronista Badarioti:

Ao penetrarmos no vasto terreiro, a nossa primeira occupação consistio, a nosso pezar na pacificação da cachorrada que travara luta desesperada. A algazarra infernal atrahiu das choupanas muitas pessoas, velhos, mulheres e crianças de physionomia um tanto estranha para mim: eram índios Chiquitanos mansos provenientes da Bolívia e empregados como colonos pelo Dr. Marcellino Prado, um dos homens mais beneméritos do Estado. (O dr Marcelino Prado) ... entreteve amistosas relações com os mais visinhos dos índios Parecis que ainda hoje votam-lhe respeito e amizade. Foi para a Bolívia e lá contratou colonos entre a tribo mansa e cristã dos Chiquitos. D'esta mesma raça são quasi todos os camaradas do Sr. Marcellino empregados na extração da borracha e da poaya assim como da cultura da canna que moida por pujante engenho produz alli assucar e aguardente (1898: 59-60).  

Esta raça (os chiquitos) é oriunda da Bolívia onde constituiu um elemento respeitável gozando já de foros de civilizada. São os Chiquitos relativamente catechisados, embora misturem ainda ao Christianismo algumas práticas supersticiosas o que não é para admirar. São bons agricultores, sóbrios, laboriosos e intelligentes... Fallam uma lingua propria e entendem o Guarany. Os mais próximos aos civilizados, os chefes especialmente, fallam regularmente a lingua castelhana, idioma oficial da Bolivia, e foi por meio desta lingua que eu tratei com os Chiquitos do Affonso (idem, 62).

No início do século XX há referências precisas e seguras sobre os Chiquitano no Brasil (Album Graphico, 1914; Rondon, 1936; Rondon, 1949; D'Alincourt, 1975 etc.). Dom Galibert, bispo franciscano que percorria a fronteira entre o Brasil e Bolívia no início do século XX, deixou registros sobre os Chiquitano, tais como:

A população fronteiriça, de Cáceres à Vila Bela, é composta em geral de Chiquitos, habitualmente muito ignorantes, porém prontos para receberem os sacramentos (apud Biennes 1987:109). Em toda a fronteira, há uma imigração de índios Chiquitos (Chiquitos, Moxos) vindos da Bolívia. São batizados e animados de um espírito religioso excelente: simples e obedientes como crianças, constituem eles um elemento muito aproveitável, não fosse o obstáculo da língua, que não permite por enquanto, intruí-los. Procuravam no Brasil possibilidades de trabalho e uma vida menos explorada do que na Bolívia (idem,108-109).
A extração da borracha nas duas primeiras décadas do século XX na Bolívia (e provavelmente no Brasil) foi um fator de depopulação dos Chiquitano, pois, além dos maus tratos, eles morriam de impaludismo ou de fome. Afirma Dom Galibert:

Quando os homens não bastaram mais, levaram mulheres e crianças. Em 1913, achando-se na na cidade de Mato Grosso, um de nossos padres viu descer Guaporé abaixo uma caravana de 60 pessoas, poucos homens, muitas mulheres, algumas de idade bem avançada, alguns meninos de 12 para 14 anos. (...). Tais contratações e deportações recomeçavam em todos os lugares, até várias vezes no mesmo ano. As aldeias se despovoaram. Malgrado sua simplicidade, os Chiquitos acabaram constatando que aqueles que partiam nunca mais voltavam.

Compreenderam a tremenda realidade. Começaram então a fugir para o Brasil, na fronteira mato-grossense, onde habitualmente eram mais bem tratados. E mesmo se hoje não acontece mais as cenas degradantes de deportações, os Chiquitos continuam afluindo para terras brasileiras: há milhares deles na diocese de São Luiz de Cáceres (apud Biennes,1987:116-7, grifos do autor) Mais recentemente, Maldi (1995), na Vistoria na Fazenda Nacional de Casalvasco, refere-se aos Chiquitano por meio da identificação feita pelos moradores na região visitada. A autora deixou importantes pistas para que fossem encontradas 11 comunidades com população principalmente de Chiquitano e para que se obtivesse a indicação da possível existência de mais 14 comunidades, todas nos municípios de Cáceres, Porto Esperidião e Vila Bela.

Em síntese, esse povo foi amalgamado a partir das reduções jesuíticas, posteriormente muitos Chiquitano foram escravizados por grandes proprietários de terra, participaram compulsoriamente de guerras, questões fronteiriças e até hoje tem sido incorporados como mão-de-obra em fazendas, seringais e matas de poaia.

Fontes de informação

  • ALBÓ, Xavier. Los pueblos indígenas del Oriente. In: CONTRERAS BASPINEIRO, Alex. Etapa de una larga marcha. La Paz : s.ed., 1991.
* Referência Geral citada pelo autor no verbete
  • ALBUM graphico do estado do Matto Grosso. Corumbá : S. Cardoso Ayala, s.d.
* Referência Geral citada pelo autor no verbete
  • ALMEIDA, Soraya C. Relatório de viagem de campo à comunidades indígenas Chiquitano - região de fronteira entre o Brasil (Estado de Mato Grosso) e a Bolívia : 19 a 30/04 de 2000. Brasília : Funai, jun. de 2000. (paper).
  • BASTOS, Uacury Corrêa de. Os jesuítas e seus sucessores (I). (Moxos e Chiquitos - 1767 - 1830)". Rev. de História, São Paulo : USP, v. 22, n. 43, p. 151-67, 1971.

--------. Os jesuítas e seus sucessores (II). (Moxos e Chiquitos - 1767-1830). Rev. de História, São Paulo : USP, v. 23, n. 44, p. 111-23, 1972.

--------. Os jesuítas e seus sucessores (III). (Moxos e Chiquitos - 1767-1830). Rev. de História, São Paulo : USP, v. 24, n. 47, p. 121-50, 1973.
  • BIENNÈS, D. Máximo. Uma igreja na fronteira : Diocese de São Luiz de Cáceres, MT. São Paulo : s.ed., 1987.
* Referência Geral citada pelo autor no verbete
  • CORRÊA FILHO, Virgílio. História de Mato Grosso. Várzea Grande : Fundação Júlio Campos, 1994.
* Referência Geral citada pelo autor no verbete
  • COSTA, José Eduardo Moreira. O Manto do encoberto : identidade e território entre os Chiquitanos (MT). Cuiabá : UFMT/Departamento de Antropologia, 2000. (Monografia apresentada para o curso de Especialização em Antropologia: Teoria e Métodos)
  • CRÉQUI-MONFORT, G; RIVET, Paul. Linguistique Bolivienne : La langue Saraveka. s.l. : s.ed., 1913
* Referência Geral citada pelo autor no verbete
  • D'ALINCOURT, Luiz. Memória sobre a viagem do Porto de Santos à cidade de Cuiabá. Belo Horizonte : Itatiaia, 1975.
* Referência Geral citada pelo autor no verbete
  • D'ORBIGNY, Alcides. Viaje a la America Meridional :Brasil - República del Uruguai - República Argentina - La Patagonia - República de Chile - República de Bolivia - República del Perú realizado de 1826 a 1833. Tomo III. Buenos Aires : Editorial Futuro, s.d.
* Referência Geral citada pelo autor no verbete
  • KEY, Mary Ritchie. Lenguas de las tierras bajas de Bolivia. America Indigena, Mexico : Instituto Indigenista Interamericano, v. 43, n. 4, p. 877-92, out./dez. 1983.
  • LOBO, Eulália. Caminho de Chiquitos às missões Guaranis de 1690 a 1718". Rev. de História, São Paulo : USP, n.40, p. 411, 1959-1960.
  • MALDI MEIRELES, Denise. Guardiães da fronteira : Rio Guaporé, século XVIII. Petrópolis : Vozes, 1989.
* Referência Geral citada pelo autor no verbete

--------; MELO, Juscelino; SOEIRO, Gilmar Campos. Vistoria na Fazenda Nacional de Casalvasco (Ordem de serviço n. 134/95, Administração Regional de Cuiabá). Brasília : Funai, 1995. 19 p. (paper)
  • METRAUX, Alfred. The Chiquitoans and other tribes of the Province of Chiquitos - tribes of Eastern Bolivia and the Madeira Headwaters. In: STEWARD, Julian H. (Ed.). Handbook of South American Indians. v. 3. New York : Cooper Square Publishers, 1963.
  • OLIVEIRA FILHO, João Pacheco de. Uma etnologia dos "Índios Misturados"? Situação colonial, territorialização e fluxos culturais. Mana, Rio de Janeiro : Museu Nacional, v.4, n.1, p. 47-77, 1998.
* Referência Geral citada pelo autor no verbete
  • RIESTER, Jürgen . La Chiquitania : Visión Antropológica de uma región em desarrollo. v. 1, Vocabulario Español-Chiquito y Chiquito-Español. La Paz : Editorial Los Amigos del Libro, 1986

--------. Los Chiquitanos. In: -------- (Ed.). Em busca de la Loma Santa. La Paz : Editorial Los Amigos del Libro, 1976. p. 119-84.
  • RONDON, Cândido Mariano da Silva. Relatório dos Trabalhos de 1900-1906. Rio de Janeiro : Departamento de Imprensa Nacional, 1949. (Publicação nº 69-70)
* Referência Geral citada pelo autor no verbete
  • RONDON, Frederico Augusto. Na Rondônia Ocidental. São Paulo : Cia. Ed. Nacional, 1936. 280 p.
* Referência Geral citada pelo autor no verbete
  • ROQUETTE-PINTO, E. Rondônia. São Paulo : Cia. Ed. Nacional ; Brasília : INL, 1975. 285 p. (Brasiliana, 39)
* Referência Geral citada pelo autor no verbete
  • SILVA, Joana Aparecida Fernandes. Breve notícia sobre os Chiquitanos no Brasil. Cuiabá : s.ed., ago. 1999. (paper)

--------. Os Chiquitano na rota do gasoduto Bolívia-Brasil. In: RICARDO, Carlos Alberto (Ed.). Povos Indígenas no Brasil 1996/2000. São Paulo : ISA, 2001. p.611-3.

--------; Anzai, Leny C.; et al. Estudo das Comunidades Indígenas na Área de Influência do Gasoduto Bolívia-Mato Grosso. Cuiabá : s.ed., 03/12/1998.
  • SILVA, Joana Aparecida Fernandes; Costa, José Eduardo Moreira da; Almeida, Soraya. Plano de Desenvolvimento para Povos Indígenas - Chiquitanos (contrato de trabalho 008/2000). Brasília : Funai, 2000. (paper)

Projeto Rondon Julho de 2011 - Operação Tuiuiú (Porto Esperidião)

Realizada na cidade de Porto Esperidião, no Mato Grosso, na segunda quinzena de julho, a Operação Tuiuiú integrou o Projeto Rondon Nacional, que é promovido pelo Governo Federal em parceria com o Ministério da Defesa e Instituições de Ensino.
Um grupo formado por oito alunos e dois professores participou da ação que, entre outros resultados, conseguiu arrecadar cerca de 3.000 livros, 2.000 kits odontológicos, materiais esportivos e de papelaria para a população do município e para a comunidade indígena da região.
O professor Victor Hugo Bigoli conta que “uma das ações mais audaciosas foi a construção de ‘escovódromos’ nas escolas das zonas urbana e rural com recursos da Universidade. Outra atividade de grande impacto foi a reinauguração da biblioteca municipal e a entrega de kits de livros para as comunidades indígenas.”

De acordo com ele, também foram feitas atividades recreativas, palestras sobre nutrição, doenças endêmicas, doenças sexualmente transmissíveis e direitos humanos.

No último dia, a Metodista e a Universidade Católica de Brasilia a UCB promoveram uma Feira Mix, na qual o cidadão de Porto Esperidião pôde reconhecer seus valores, por meio de trabalhos de artesãos. 

Além da exposição dos produtos confeccionados pela comunidade, foram realizadas oficinas de leitura, recreação e atividades musicais.